“Há uma justificação histórica para isto. Depois da independência, num contexto em que não podíamos fugir da influência imperialista, mas não queríamos que os recursos do país fossem totalmente saqueados pelo capital externo, formou-se uma burguesia nacional que protegesse os recursos de Moçambique. E quem é mais patriótico do que aqueles que lutaram pela libertação da pátria? A primeira onda de expropriação foi feita pelo Estado para fazer emergir este grupo de proprietários que não teve sucesso. Depois, uma boa parte destas empresas ficou obsoleta: os sistemas de financiamento não eram adequados, não havia serviços de apoio à reabilitação empresarial. A ligação com o capital estrangeiro tornou-se uma opção viável por vários motivos: são multinacionais que dominam mercados internacionais, têm tecnologia, têm reputação, têm experiência…
O grande problema é que tornar os recursos apenas disponíveis para as multinacionais significava que a burguesia capitalista oligárquica moçambicana iria perder no processo. Para que isso não acontecesse, ligou-se a penetração do capital internacional ao desenvolvimento do capital nacional - não é por acaso que houve uma enorme campanha de divulgação das riquezas de Moçambique, “temos gás, temos petróleo, temos carvão, temos minerais…”, explica o economista moçambicano, Carlos Nuno Castel-Branco.
E continua: “a maneira de fazer esta ligação entre capital nacional e internacional foi colocar os primeiros a negociar com os segundos. Mas, para este processo acontecer sem custos adicionais, o Estado teve de abdicar dos seus ganhos: minas, recursos, foi tudo posto à disposição a baixo custo, tornando qualquer negócio favorável”.